segunda-feira, 30 de setembro de 2013

MADAME BOVARY NO DIVÃ



Por Mônica Perny


Apresentação

O texto tem como objetivo um breve estudo da psicanálise articulada ao amor e a literatura para melhor compreensão do comportamento da personagem Emma do romance realista francês “Madame Bovary” de Gustave Flaubert.


Introdução

Em 1856, após cinco anos de trabalho, o escritor francês Gustave Flaubert (1821-1880) publicou seu romance mais importante: Madame Bovary, no qual criticou os valores românticos e burgueses da época. O livro gerou grande polêmica e seu autor foi processado sob a acusação de “ofensa à moral pública e religiosa”.  
Sua obra tornou-se a mais representativa do Realismo francês e exerceu grande influência sobre escritores brasileiros, entre eles de Aluísio Azevedo e Machado de Assis.
O romance tem como pano de fundo uma sociedade provinciana conservadora e moralista. A personagem central é Emma Bovary, uma mulher romântica e insatisfeita com a vida provinciana; mulher egocêntrica e ambiciosa que acreditava que só seria feliz numa vida de luxo e poder. Era nos livros que Emma buscava fugir da realidade. Influenciada pelas leituras românticas e sua permanente insatisfação com o mundo real faz com que Emma desse um trágico fim a sua angústia.

Emma Bovary

Emma era uma jovem camponesa instruída e educada. Moça sonhadora queria ter e ser aquilo que estava longe da sua realidade. Esta obsessão fantasiosa de Emma era alimentada pelas leituras de romances que versavam sobre o amor.   Era nos livros que Emma buscava fugir da realidade. Através das leituras e de seus devaneios românticos, repletos de aventuras e paixões, a moça construiu seu referencial de vida idealizado.
A Emma foi praticamente oferecida a Charles Bovary, por seu pai, um lavrador que passava por dificuldades financeiras. Emma acreditava que Charles seria capaz de lhe dar os prazeres da paixão. Assim, Emma casou-se com Charles não só porque acreditava estar apaixonada por ele, mas também porque acreditava que o casamento lhe daria a oportunidade de ascender socialmente. Via no casamento uma vida de glamour.  Porém casamento não lhe trouxe a felicidade apresentada nos livros que lera.
Charles Bovary era o oposto da protagonista. Médico provinciano, pacato e desprovido das grandes ambições, casou-se com Emma por amor.
A decepção da recém-casada Emma Bovary começou logo na lua-de-mel. Emma logo percebeu que a como esposa, assim como o marido não seriam capazes de satisfazer seus anseios. Mesmo casada, seu cotidiano era entediante e rotineiro e seu marido Charles, não era um amante sedutor e galante tal como os amantes descritos nas páginas dos romances que lia. Começou aí a sua angústia.
 Via seu marido como um homem medíocre, fracassado e frio, passando a desprezá-lo. Nem mesmo a maternidade fora capaz de lhe dar felicidade e alegria.
 Esposa adúltera buscou extravasar sua angústia nos relacionamentos extraconjugais frustrados e no consumo desmedido de futilidades, que a fez contrair dívidas impagáveis levando sua família à ruína.
            Rasgado o véu da fantasia, Mme. Bovary não foi capaz de lidar com a realidade quotidiana. Diante da concretude nada romântica da vida, onde não havia mais nada para fantasiar, num ato de desespero cometeu o suicídio.


Considerações finais

Emma tinha o hábito de ler romances de amor. Moça ingênua considerava sua vida no campo monótona e chata, buscava refúgio nos romances para preencher o vazio de suas experiências pessoais. Estes foram capazes fazer com que sua imaginação criasse as sensações antes das experiências.  Este foi o ponto de partida para a trajetória de deslocamento de um ser (real) para outro (imaginário).
Este processo inaugura o fenômeno do Bovarismo, que na prática faz em trazer para a realidade hábitos imaginados somente para sentir-se a tal imaginada.
Assim, Emma construiu sua vida construída num terreno frágil de bases ilusórias. Enredou-se num romantismo imaginário, alimentado pelas leituras, que a afastando-a cada vez mais da sua realidade e se aproximar de suas fantasias.     Ousada, desafiou o seu tempo para encontrar a felicidade e o sentimento de completude.  Entregou-se de corpo e alma ao hedonismo para preencher a sua falta, o seu vazio existencial. Mas o que Emma não sabia, era que estaremos sempre na falta tentando preencher com mais e mais objetos o nosso vazio.
Madame Bovary apresenta uma estrutura histérica com sintomas clássicos, descritos pela psicanálise. Conclui-se, portanto que, todas as ações de Madame Bovary (suas investidas extraconjugais e extrapolação do seu poder de compra) foram guiados pelo mesmo e único signo: a paixão.


Referências

FERREIRA, Nadiá Paulo. O amor na Literatura e na Psicanálise. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2008. Disponível em:

PALMIERI, Gisele Maria Nascimento. O fetiche de Madame Bovary. Disponível em:
<http://www.palpitar.com.br>. Acesso em: 29 set.11.

SANTOS, Goiamérico Felício Carneiro. Madame Bovary: a paixão, o consumo. Disponível em:

SCOTTI, Sérgio. A histeria em Freud e Flaubert. Disponível em:


_____. Psicanálise e literatura, o objeto e o estilo em Flaubert e Joyce. Disponível em: <http://www.omarrare.uerj.br/numero11/pdfs/sergio.pdf>. Acesso em: 20 set. 2011.





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